Por trás das portas da convenção estadual do MDB de Pernambuco, marcada para este sábado a partir das 9h, se desenha mais que uma eleição interna. A disputa pelo comando do partido, protagonizada pelo atual presidente Raul Henry e o deputado estadual Jarbas Filho, escancara um racha que vai muito além das urnas — é uma luta por identidade, protagonismo e a narrativa sobre quem representa, de fato, o legado do ex-governador Jarbas Vasconcelos.
Com 97 filiados titulares aptos a votar, o pleito tem todos os ingredientes de um embate dramático: acusações mútuas, divergências estratégicas e, acima de tudo, uma batalha pela herança política de um dos nomes mais emblemáticos da história recente do estado.
A figura de Jarbas Vasconcelos, fundador do MDB-PE, ex-senador e ex-governador tornou-se o eixo simbólico da disputa. Raul Henry, seu aliado histórico e atual dirigente estadual, questiona o uso da imagem do ex-governador por Jarbas Filho, alegando que o pai, por questões de saúde, está impossibilitado de se manifestar politicamente. O deputado, por sua vez, rebate com dureza: afirma que foi Henry quem “usurpou” a trajetória de Vasconcelos e que agora é hora de recuperar o verdadeiro espírito do MDB.
A troca de farpas revela uma disputa mais profunda: quem tem legitimidade para conduzir o partido rumo às eleições de 2026? E, mais que isso, qual MDB sairá dessa convenção um partido aliado do PSB e do prefeito João Campos, ou um MDB mais autônomo, aberto à governadora Raquel Lyra?
Jarbas Filho se licenciou da Assembleia Legislativa para enfrentar Henry de frente. Critica o atual presidente por, segundo ele, conduzir o MDB de forma centralizada e sem consulta à base. O estopim foi o apoio antecipado de Henry à candidatura de João Campos ao governo do estado — uma decisão que, segundo o deputado, não ou pelo crivo da executiva nem das bases do partido.
Já Raul Henry enxerga na candidatura de Jarbas Filho uma articulação externa com vistas a reposicionar o MDB como aliado de primeira hora do Palácio do Campo das Princesas, comandado por Raquel Lyra (PSDB). “Há uma movimentação intensa no Palácio para defender a chapa de Jarbas Filho”, afirmou Henry em entrevista à Rádio Folha.
As alianças de ambos os lados mostram a musculatura política do embate. Ao lado de Jarbas Filho, estão o senador Fernando Dueire — que herdou a cadeira de Jarbas pai no Senado — além de nove prefeitos e lideranças históricas da legenda. Dueire insiste que a disputa não visa apenas articulações para 2026, mas sim “reanimar a vida orgânica do partido”.
Raul Henry, por outro lado, conta com o apoio de nomes como o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, a deputada federal Iza Arruda e o ex-secretário de Segurança Cidadã do Recife, Murilo Cavalcanti — este último um dos idealizadores do Compaz, projeto-símbolo da gestão de João Campos. Murilo, aliás, é claro ao dizer que sua presença na chapa de Henry visa garantir o apoio do MDB ao PSB em 2026.
A votação será curta e intensa: começou às 9h, com titulares votando até as 11h e, na sequência, suplentes assumindo as vagas em caso de ausência. A apuração será imediata. Ambos os candidatos prometem votar cedo — e, depois disso, os bastidores devem esquentar ainda mais.
Independente do resultado, a convenção deste sábado marca um divisor de águas. A unidade do MDB-PE, já abalada, dependerá do esforço de reconstrução após uma disputa marcada por mágoas públicas e gestos de ruptura. Enquanto Murilo Cavalcanti fala em pacificação pós-eleição, Dueire minimiza o impacto da cisão, chamando-a de “parte natural do processo”.
Mas a pergunta que permanece — e que nem a urna poderá responder imediatamente é: o MDB de Pernambuco vai sair mais forte, ou apenas mais fragmentado, deste embate? O tempo (e 2026) dirão.